Estudo mostra que 82% das espécies de árvores exclusivas da Mata Atlântica correm risco de extinção

01 de Fevereiro de 2024

Os pesquisadores do FlorestaSC, André Luís de Gasper e Alexander Vibrans, colaboraram em um estudo publicado pela revista Science que aponta que a maioria das espécies de árvores da Mata Atlântica estão ameaçadas de extinção. A pesquisa, que durou mais de 2 anos, foi coordenada pelo pesquisador Renato Lima, professor de ecologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP). 

Esta é a primeira vez que todas as populações das quase 5 mil espécies arbóreas da Mata Atlântica, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, tiveram seu grau de ameaça avaliado conforme os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), maior referência global em espécies ameaçadas.

Mais de 3 milhões de registros de herbários e inventários florestais foram considerados, com riqueza de detalhes sobre as espécies, uso comercial e grau de aumento ou redução de sua população existente na Mata Atlântica. Como o bioma inclui Santa Catarina, e consequentemente Blumenau, as estatísticas do programa FlorestaSC, que envolve a FURB, foram consideradas pelo estudo. Com os cálculos desenvolvidos pelo grupo foi possível estimar quantas árvores de cada espécie existem e quanto deveria existir se não houvesse o desmatamento.

O QUE MOSTRAM OS NÚMEROS?

Do total de 4.950 espécies arbóreas presentes no bioma (incluindo as que ocorrem também em outros domínios), 65% estão com suas populações ameaçadas de alguma forma. Quando são analisadas as espécies endêmicas (mais de 2 mil), ou seja, exclusivas da Mata Atlântica, o percentual de ameaça de extinção sobe para 82%.

Outro dado que assusta é que apenas 7% das espécies endêmicas tiveram declínio populacional abaixo de 30% nas últimas três gerações, indicando uma tendência de piora no desmatamento no Brasil. A classificação internacional IUCN já considera que, acima desse patamar, a espécie já pode ser considerada “Vulnerável” (redução da população entre 30% e 50%), que é a primeira categoria de ameaça de extinção. Acima dessa, estão “Em Perigo” (entre 50% e 80%) e “Criticamente em Perigo” (acima de 80%).

Foto: Anderson Kassner Filho

Entre as espécies ameaçadas, 75% delas estão na categoria “Em Perigo”. É o caso da araucária, do palmito-juçara, da erva-mate e da canela-sassafrás, que tiveram declínios de pelo menos 50% da sua população. O pau-brasil, típico do bioma, foi listado como “Criticamente em Perigo”, dada a redução estimada de 84% da sua população. 

Cinco espécies consideradas extintas na natureza foram redescobertas no estudo, mas nenhuma delas ocorre em Santa Catarina.

Foto: Renato Lima

O QUE PODE SER FEITO DIANTE DESTA SITUAÇÃO?

Para o Prof. André de Gasper, as informações geradas no estudo são primordiais para a criação de políticas públicas de conservação de espécies:

“A gente quer saber o grau de ameaça para fazer políticas de conservação, categorizar aquelas que são vulneráveis, em perigo e criticamente em perigo, que é a escala mais grave de ameaça, de extinção, e assim poder direcionar melhor os recursos para tentar conservar essas espécies. (...) 

O Prof. Renato Lima aponta que seria necessário fazer planos de ação para conservar ao menos os genes das espécies mais ameaçadas, plantando em jardins botânicos, por exemplo.

"Às vezes ela está extinta na natureza, mas ela está em algum jardim botânico. Assim como ocorre com algumas espécies animais". completou.

Outra medida essencial é conservar os fragmentos que ainda sobraram das espécies em extinção. "Melhorar as condições deles para que essas espécies possam se manter a longo prazo nessas áreas", explicou.

"É possível reverter sim, mas como em geral a gente vê que a Mata Atlântica continua sendo desmatada, continua sendo perturbada, o prognóstico não é muito bom. A gente teria que realmente parar e tomar providências mais drásticas do que tem sido tomadas atualmente."

Mais uma alternativa que pode trazer resultados a longo prazo é a restauração florestal. "Se a gente for plantar floresta e nessas florestas a gente usar espécies que estão em alto risco de ameaça na mata atlântica, a gente consegue repor na natureza um pouco das populações que foram perdidas. Consegue, ao longo do tempo, dizer que as populações estão sendo repostas."


O artigo pode ser lido na íntegra em: https://www.science.org/doi/10.1126/science.abq5099.