Investigação de mudanças florísticas nos últimos 21.000 anos - entre o Último Máximo Glacial e fim do século 21
Quarta-feira, 24 de Novembro 2021
O estudo de autoria do doutorando Oliver Wilson (Universidade de Reading, Inglaterra) e integrantes da equipe do IFFSC, estabeleceu uma inédita linha do tempo das mudanças florísticas ocorridas, nos últimos 21.000 anos na Floresta Atlântica do Sul do Brasil e, especialmente, em Santa Catarina. Esta linha de tempo foi tomada como base para a modelagem das prováveis mudanças da vegetação no cenário das mudanças climáticas até o ano de 2070.
A pesquisa integrou, de forma inédita no Brasil, várias bases de dados: a) registros paleoecológicos (análise de pólen de Angiospermas e Gimnospermas em sedimentos do quaternário; b) registros paleoclimáticos de temperatura e precipitação em sedimentos e cavernas como as de Botuverá (bases Paleoview e Speleothem), dados climáticos atuais e futuros até 2070 da base CHELSA, c) registros florísticos de 420 Unidades Amostrais do IFFSC em Santa Catarina e da base GBIF no RS e PR.
Estes dados serviram de base para modelar, numa resolução de pixels com 800x800 metros, a distribuição geográfica de 30 espécies-chave ou indicadoras (árvores e algumas ervas) que formam as 22 assembleias constituintes da Floresta Pluvial Atlântica, da Floresta com Araucária, da Floresta Semidecidual, dos Campos de Altitude e das Matinhas Nebulares. Desta forma, foi possível reconstruir a extensão destes ecossistemas em diversas épocas: 21.000, 18.000, 15.000, 12.000, 9.000, 6.000 e 3.000 AP, no presente e no ano de 2070.
Os resultados mostram, que em mais de 100.000 km² da Floresta Atlântica do Sul do Brasil haverá mudanças florísticas mais drásticas do que as ocorridas nos últimos 21.000 anos, portanto desde o Último Máximo Glacial.
Em resposta a estas mudanças, ocorrerá a expansão das Florestas Pluviais, com suas espécies, em clima mais quente, migrando da vertente atlântica em direção ao planalto, ocupando e terreno das Araucárias, que sofrerão uma drástica retração (aliás uma observação já feita – empiricamente - por Roberto Miguel Klein em meados do século XX). Por consequência, espécies constituintes da Floresta com Araucária sofrerão ainda mais ameaça de serem extintas do que nos dias atuais; isto porque estas, junto com as dos Campos e da Matinha Nebular – sob efeito do aquecimento global – não tem mais “para onde fugir” para escapar das temperaturas mais elevadas, uma vez que já ocupam as zonas de maior altitude do estado.